BAGAGEM
sempreemfrente
De um tempo para cá percebo estar mais reflexiva sobre quantas coisas, pessoas e emoções carregamos durante anos sem ao menos nos darmos conta de que não mais cabem em nossa bagagem existencial.
Passamos dias e, às vezes, anos insistindo em permanecer agarradas as situações que já passaram. Parece que não aceitamos as consequências geradas de tantas escolhas erradas e ficamos tomados(as) de várias emoções desagradáveis. Fazemos de tudo para abafar ou mesmo silenciar os mais diversos sons dessas emoções.
É certo que quando estamos no meio de uma tempestade o nosso foco, na maioria das vezes, é fazer o possível para cessá-la. E quando acaba procuramos esquecê-la até que outra retorne. Em vez de tentar compreender as mensagens, os sinais e os avisos, aprendendo a interpretar o significado da sirene para nos ajudar na prevenção, e, também, procurar desenvolver estratégias para atuar direto na origem do problema.
Contudo, temos olhos para ver, mas não enxergamos nada. Ouvidos para ouvir, mas não escutamos nada. Talvez seja mais fácil fingir, negar e até mesmo sabotar nosso crescimento do que enfrentar os nossos medos.
Sabemos que se permanecermos como estamos, paralisados(as) e medrosos(as) não conseguiremos mudar. Continuaremos insistindo em empurrar as coisas, pessoas e emoções para caber dentro da nossa vida ou mesmo continuarmos a nos espremer para caber em espaços alheios.
Somos mais que isso. Ninguém deve se diminuir para ser aceito(a) por outrem. Tampouco, nenhum lugar onde tenhamos que nos diminuir para caber, vale a pena ficar.
Para Carl Rogers, segundo Patrick Alonso, “as pessoas são fluidas, estão constantemente em mudança, sentindo e vivenciando diferentes situações em momentos distintos. Ser o que se é pode significar, deste modo, estar onde se está a cada instante, e seguir atualizando-se.”
Por isso, é importante buscar o equilíbrio das emoções, desenvolver o autoconhecimento e atualizar-se para, aos poucos, conseguirmos esvaziar a bagagem e caber em nossa vida apenas aquilo que faz sentido para nós.
De acordo com Sófocles, “Tudo é nojo quando um homem deixa sua própria natureza e faz o que é impróprio.”
Basta de ficar silenciando o que sentimos, os sons incômodos e os alarmes. Empurrar para baixo do tapete as nossas emoções, agradáveis ou não, para ficarmos bem “na fita” e sermos aceitos(as) em espaços que são pequenos. Se precisamos diminuir para caber em um espaço, algo está errado.
Destaco um poema de Cora Coralina, “Fechei os olhos e pedi um favor ao vento: leve tudo o que for desnecessário. Ando cansada de bagagens pesadas...Daqui para frente levo apenas o que couber no bolso e no coração.”
Então, que tal começarmos a aprender a fazer a nossa bagagem? Separar o que realmente precisamos levar conosco, o indispensável, o que agrega e enriquece nossa existência. Podemos começar a nos perdoar, perdoar o nosso passado, as escolhas que fizemos, mas que hoje, amadurecidos(as) jamais faríamos. Entender que mudamos, abraçando o presente e deixando espaço para que o futuro chegue, que não precisa ser muito distante, pode ser apenas o dia de amanhã, recheado de escolhas que nos priorize, recomeçando, sempre. Enfim, que possamos organizar a nossa bagagem de maneira que consigamos ter uma melhor qualidade de vida.