A VOZ
sempreemfrente
Vivemos escutando vozes externas e internas recheadas de múltiplos valores que acabam influenciando as nossas escolhas diárias. Muitas das vezes podemos nos sentir reféns delas. Será que podemos impedir que surjam em nossa mente? O que fazer?
Destaco um trecho de um texto escrito por Ethan Kross
“...as vozes da cultura influenciam as vozes internas de nossos pais, que por sua vez influenciam a nossa, e assim por diante pelas muitas culturas e gerações que se combinam para sintonizar nossa mente.”
Somos influenciados e influenciamos a todo instante. Na era da informática e globalização, isso parece acontecer de forma instantânea. Não é apenas uma voz que ressoa em nossa mente, mas uma grande variedade, pulsando dentro da nossa cabeça. Fica um grande desafio que é manter uma espécie de bússola moral ao escolher qual voz irá nos guiar no caminho que acreditamos ser o melhor para nós sem nos desviar dele.
Não é fácil fazer essa escolha, pois toda escolha terá consequências. É um dilema individual que afeta muitas outras pessoas. A decisão é orientada por uma ética, conjunto de princípios e valores de conduta que uma pessoa ou um grupo de pessoas tem, que marca a fronteira da nossa convivência.
O princípio da ética é a integridade que nos ajudará a não nos desviar do nosso caminho. Ser sincero neste mundo tão cheio de falas mentirosas parece utopia, pois a grande maioria mascara sua intenção através de uma vozinha suave que não assume o erro. Vide as redes sociais cheias de filtro para impedir que enxerguemos as imperfeições.Tanto falatório, muitas vezes maquiado em nossa mente, que se não tomarmos cuidado adoecemos. Múltiplas vozes prejudicam tanto o nosso emocional como prejudicam o nosso físico.
Por isso, precisamos pedir ajuda ao perceber que estamos perdidos(as) diante de tantas falas vindas de vários lugares que nem sabemos como administrar. Não conseguimos mais olhar para dentro de nós e nos distanciar desse falatório interno e externo. Acalmar tudo isso passa a ser uma questão de sobrevivência para encontrar o caminho que nos leva ao encontro com a nossa pessoa.Não podemos ganhar perdendo. Necessitamos ir de encontro com os nossos princípios e valores para viver de acordo com eles. Aprender a ser livre.
No entanto, dentro da liberdade é tolo pensarmos em ética. No dizer de Stevens,
“O que denominamos ética apenas é – uma parte da humanidade, que existe como uma resposta livre à vida e a todo viver. Como posso querer ferir você quando sinto que você é eu, e eu sou você? Como posso agradecer o que você me deu, quando sou você? (...) Não posso fazer com que eu exista, assim como não fazer com que o meu coração bata: só posso eliminar o que me impede de existir. Quando faço isso, estou aprendendo a ser livre.”
A experiência de ser livre é um aspecto central da Psicoterapia. Ao buscar ajuda a pessoa poderá se tornar mais autônoma, mais espontânea e mais confiante. É a tal liberdade de ser que se é. Na relação com a psicóloga a pessoa começa a compreender que não é obrigada a seguir as expectativas das outras pessoas e muito menos ser guiada por vozes que não fazem sentido para ela. Não se sente mais obrigada a ser vítima de falas desconhecidas. Passa a assumir mais o seu protagonismo. Deixa de ser uma pessoa dirigida por forças externas e internas que não compreendem, que a deixam com medo ou desconfiança de profundos sentimentos e de si mesmo, por viver com valores que recebeu de outrem. Torna-se livre para desejar, necessitar e escolher. Aceita a força da sua natureza, sua singularidade, subjetividade, a forma como lida com as vozes internas e externas e sua potencialidade.
Logo, não temos o poder de impedir que as vozes cheguem em nossa mente, mas se estivermos com problemas de falatório, será melhor buscar ajuda ao invés de querermos resolver o problema por conta própria ou ficarmos preocupados(as) com o que as pessoas irão pensar ou dizer se descobrirem que buscamos ajuda. A conversa que temos com nós mesmos, costuma envolver outras pessoas e elas nos envolverem, e pode nos fazer sentir melhor ou pior e aumentar a intensidade das vozes. Portanto, aprender a gerenciar dentro de nós mesmos as múltiplas vozes, reduzindo o ruído mental e a crítica interna, poderá ser uma escolha libertadora.