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Rosangela Perez / Instagram: @psicologarosangelaperez

Espaço destinado para provocar as mais variadas reflexões e inquietações sobre diversos temas do nosso cotidiano. Espero que contribua e o(a) estimule a transformar sua realidade. Meu site: www.psicologarosangelaperez.com.br

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02.11.21

O SOPRO DA VIDA


sempreemfrente

 

        A cada dia me percebo mais e mais pensativa diante do tempo. A impressão que tenho é que ele está se esvaindo por entre os meus dedos. O que fazer diante dessa total impotência? Não temos condições de pará-lo ou mesmo acelerá-lo. Ele nos mostra o quão não adianta de nada nos emburrarmos, ficarmos preocupados(as), com raiva, carregarmos mágoas, ressentimentos e nos apegarmos a vaidade, objetos ou mesmo a pessoas, pois em um tal segundo, em um piscar de olhos, poderemos não mais sentir o sopro da vida dado por Deus e , simplesmente, passamos a não mais existir neste plano. Independentemente de ter uma crença religiosa ou não, é fato, somos mortais.

 

“O segundo, não o tempo, é implacável. Tolera-se o minuto. A hora suporta-se. Admite-se o dia, o mês, o ano, a vida, a possível eternidade. Mas o segundo é implacável. Sempre vigiando e correndo e vigiando. De mim não se condói, não pára, não perdoa. Avisa talvez que a morte foi adiada ou apressada. Por quantos segundos?”                                                                                                                                                                                                      Carlos Drummond de Andrade.

 

        O som do relógio: tic, tac, tic, tac, passa-nos a falsa impressão de que podemos controlar o tempo. Quanta insensatez! Segundo Eclesiastes, “O homem não conhece o futuro. Quem lhe poderia dizer o que há de acontecer em seguida?” Alguns filósofos destacaram a importância de não nos atermos a duração do tempo, àquilo que é estável, mas ao movimento, a continuidade de transição, o fluxo. Para os filósofos existencialistas o tempo é um dos elementos constituintes do ser.

 

“Para Heidegger (1889-1976), o homem deve ser compreendido pelas condições básicas do “estar/ser no mundo”, “estar/ser parar a morte”. Assim, a morte e, consequentemente, a temporalidade definem a condição humana. Para o filósofo alemão, analisar o tempo é observar o homem em sua maior contradição: a tensão permanente entre permanência e transitoriedade, poder e impotência, vida e morte.”                                       

                                                                                                             Paulo Dalgalarrondo.

 

        Essas tensões tão importantes que nos fazem estar/ser no mundo se relacionam e contribuem para o nosso estado mental, pois a vida psíquica ocorre e se configura no tempo: tempo subjetivo e objetivo.

 

         Aprender a gerenciar as diversas tensões, reeditar os conflitos, ressignificar as experiências e as contradições que se apresentam em nosso cotidiano e que fazem parte da condição humana, poderá nos ajudar a conquistar uma mente mais livre e criativa. Ao abrir ao máximo a mente para pensar outras possibilidades e libertar o imaginário. Sair da rigidez de uma definição de uma pessoa ou diagnóstico para uma compreensão de um estado, indo ao encontro do movimento.

 

        Podemos correr o risco de esgotarmos a nossa vida psíquica, ao nos atermos ao estável com tantas ruminações, cobranças, desconfianças, incongruências e gastos desnecessários de energia ao querer impedir a existência das contradições, dos opostos. O tempo, a duração, é a continuidade de transição, de mudança.

 

        Portanto, somos impotentes em relação ao tempo, a nossa mortalidade, ao sopro da vida, mas isso não invalida a nossa potencialidade para decidir o que fazer com o tempo que nos é dado. Bem como, assumir nosso papel vital como autores(as) da própria história. Podemos procurar tomar posse dela através do autoconhecimento, no caminho de uma maior compreensão de nós mesmos. Em busca da alteração da ideia distorcida do Self que nos tornará ser uma pessoa mais autêntica e fluida, já que os fenômenos psicológicos estão sempre em transformação. No processo da Psicoterapia, a(o) psicoterapeuta nos auxiliará a nos conectar com a nossa tendência atualizante, que é inerente para desenvolvermos nosso potencial e que nos ajudará a fazer escolhas, assumir perdas e ter intimidade com o universo das indagações, visto que mentes engessadas tendem a asfixiar a emoção e anular a capacidade em gerenciar o tempo, lidar com a vida e com a morte.