GRADES
sempreemfrente
Existem algumas situações que aconteceram em nossa vida que, por algum motivo, escravizaram-nos e nos fizeram acreditar que estamos presos(as)sem condição alguma de nos libertar, mudar a nossa realidade, e que nascemos para nos contentar em assistir de dentro das grades a vida correndo lá fora. O que podemos fazer?
Quem procura prender qualquer ser vivo parece demonstrar total falta de empatia e egoísmo. Quanta crueldade e perversidade! Entendo que nascemos para sermos livres e não escravizados(as). Um sistema que prega a opressão e a negação dos direitos, precisa ser questionado e discutido. Vivemos em uma época que muito se fala de racismo estrutural. Pois bem, não devemos apenas falar sobre isso, mas ter atitudes em nosso dia a dia de forma concreta a esse respeito para combater, romper e impedir todo e qualquer preconceito, bem como desmistificar qualquer tabu sobre esse assunto.
Contudo, acredito que precisamos, antes de qualquer coisa, querer e procurar nos aprofundar em nossa história, mundos interno e externo, por mais que nos cause espanto e horror, para que possamos reconhecer, entender, aprender, identificar, nomear e questionar valores e princípios opressores que nos foram passados como sendo os únicos e verdadeiros e que acabaram por construir dentro de nós crenças excludentes.
Essas crenças com forte carga afetiva predispõem até mesmo colocar alguém dentro de uma grade sem direito de se defender ou mesmo de se libertar. Visto que, podemos aprisionar alguém de várias formas: ao impor os nossos valores, estimular emoções negativas ao ponto da pessoa se sentir enfraquecida e ficar mal ou se envergonhar de ser quem ela é, rir das suas características, humilhar, fazer crer que não tem nada para oferecer e, muito menos SER na sociedade, e ao desvalorizar o jeito de ser da pessoa.
“Simone de Beauvoir afirmava que não há crime maior do que destituir um ser humano de sua própria humanidade, reduzindo-o à condição de objeto".
(apud Pequeno Manual Antirracista).
Silenciar diante de tanta violência é ser cúmplice dela. Uma vez que, “Não há uma sociedade externa ao indivíduo; não há um indivíduo a priori ou independente da sociedade.”(apud Psicologias). Podemos não só procurar nos aprofundar , ressignificar as percepções e influências que recebemos do meio social, fruto das relações entre os homens, mas também mudar nossas atitudes, a partir de novas informações, novos afetos, novos comportamentos ou situações.
Por isso, proponho que possamos nos permitir mergulhar em nosso autoconhecimento através da Psicoterapia , pois dentro de nós temos vastos recursos para a autocompreensão e modificação de nossos autoconceitos, atitudes e comportamento autônomo. Esses recursos podem ser ativados quando houver um clima de atitudes psicológicas facilitadoras na relação terapeuta-cliente: autenticidade, interesse e empatia. “De que modo este clima que acabo de descrever leva à mudança? Resumidamente, eu diria que se as pessoas são aceitas e consideradas, elas tendem a desenvolver uma atitude de maior consideração em relação a si mesmas(...). Sente-se mais livre para ser uma pessoa verdadeira e integral.” (Carl Rogers).
Portanto, os mundos interno e externo do ser humano são construídos em um mesmo processo, e a existência de um depende da existência do outro.Assim, em conjunto com a mudança interna podemos nos encorajar e realizar múltiplas mudanças externas: apoiar políticas públicas inclusivas, transformar o nosso ambiente de trabalho com mais escuta ativa e acolhedora, analisar, constantemente, as práticas corporativas, questionar a cultura que consumimos e quais são os valores que estão por trás disso, estimular a construção de uma equipe diversificada e adotar práticas antirracistas. Enfim, podemos fazer muita coisa para nos transformar e transformar a sociedade. Contudo, debater e combater todo tipo de preconceito, exclusão, violência e aprisionamento, faz-se necessário e urgente, para que não tenhamos mais pessoas, sendo escravizadas.