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Rosangela Perez / Instagram: @psicologarosangelaperez

Espaço destinado para provocar as mais variadas reflexões e inquietações sobre diversos temas do nosso cotidiano. Espero que contribua e o(a) estimule a transformar sua realidade. Meu site: www.psicologarosangelaperez.com.br

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01.07.21

A DESOBEDIÊNCIA


sempreemfrente

      Esta semana escutei de um motorista de táxi que estávamos passando por todas as dificuldades por não termos sido obedientes ao Criador. Começou a me listar, como se eu estivesse perguntado a ele, todas as possíveis iniquidades que as pessoas haviam praticado e que, por isso, estávamos sendo castigados(as). Naqueles pequenos instantes, que precisei permanecer dentro do carro, tive a impressão de que aquele homem demonstrava nomear aqueles diversos motivos para aliviar a sua impotência ante a inexorabilidade das escolhas de outrem. Entretanto, as escolhas alheias são influenciadas por todo um sistema social.

 

      Destaco as seguintes palavras de Gilberto Freire ao falar que o ser humano

“é um todo, biológica, ecológica e sócio-culturalmente determinado. E seu bem-estar- além de físico, psicossocial- está dependente e relacionado a situações que o envolvem como membro de um grupo, em particular, e de uma comunidade e, mais do que isto, de um sistema sócio-cultural em geral; e não apenas de sua herança biológica ou de fatores ecológicos”.

 

     Somos influenciados e influenciamos a todo instante. Não temos como escapar disso. As nossas emoções como nosso pensamento e comportamento são submetidos às influências sociais. Ao falarmos do outro estamos falando da gente. “Cultura e discurso estão intimamente articulados, de forma que o conteúdo do discurso sempre contém uma impregnação ideológica” (Rodrigues e Gasparini).

 

    O taxista estava ávido por expressar suas emoções através da sua linguagem com um discurso carregado de uma ideologia que segundo ele, é a certa. Afinal de contas, disse ele ao se dirigir a mim: “não sei a sua idade, mas tenho 63 anos. Na minha época um jovem pedia licença ao precisar passar entre dois idosos na calçada. Hoje em dia eles xingam ou nem se quer enxergam eles”. Naquele instante, pareceu-me claro que o motorista estava indignado com o proceder de algumas pessoas e essa indignação, levou-me a pensar sobre o proceder da sociedade neste século vigente.

 

    Quantos falsos juramentos, roubos, adultérios, violências, acúmulo de homicídio sobre homicídio, aumento do consumo de drogas, valorização da aparência, exclusão de tudo aquilo que representa como diferente para um determinado grupo, extermínio dos habitantes: animais selvagens, aves, peixes, desmatamento desenfreado, água poluída, não cumprimento das leis...

 

      Estamos assistindo, diariamente, tantas atrocidades vindas de todos os lados, que acredito que ao continuarmos assim, naturalizando a destruição, talvez a terra não mais suporte as nossas escolhas insaciáveis que não se importam com nenhum manual, nenhuma lei. Desobedecer parece ser a regra a qual obedecemos, no momento.

 

      Ao continuarmos com o proceder destruidor sem pensar no futuro, abafando mais e mais a razão, será que conseguiremos sair ileso(as)? Ser infiéis àquilo que nos faz bem tem preço. Esse valor pode sair muito caro. Um povo insensato lança-se à ruína.

 

   Tampouco, transferir as nossas responsabilidades. Para algumas pessoas é mais interessante estarmos no papel de vítima, do(a) filho(a) castigado(a), do que de autor(a). Atenção para a ditadura da tensão, do medo, da vitimização, da rigidez, da divisão e do isolamento! Precisamos uns dos outros, da rede de apoio. Precisamos aprender a clamar por ajuda e ajudar também.

   

    Enfim, todos nós passamos, em algum momento, por intempéries. Ficar estacionados(as) no problema ou mesmo na crença de um castigo, possivelmente, irá nos afastar da solução. Em alguma hora precisaremos administrar a tensão, encarar as dificuldades, as angústias diante das escolhas, lidar com uma perda e frustração para que nossos pensamentos não sejam dominados pelo medo e nos aprisione ao ponto de acreditarmos que não conseguiremos mudar o rumo da nossa história. Nada é imutável. Ao tomar posse dela poderemos corrigir nossa rota com maturidade.Valorizar a vida sem ganância sem maldade.