O VOO DA FRATERNIDADE
sempreemfrente
Em um dia ensolarado e quente fui surpreendida, por alguns instantes, com a visita de um pássaro (calopsita) pendurado na tela da sacada. Tive a impressão de que pedia ajuda. Foi uma passagem quase que instantânea, mas suficiente para que refletisse o quão é preciosa a fraternidade.
Têm momentos em nossa vida que nos encontramos esgotados(as), fatigados(as), cambaleando diante de tantos obstáculos vindo de todos os lados. Parece que não tem fim. Nossas forças vão se esvaindo e ficamos acabrunhados(as).
Como na letra da música Felicidade de Marcelo Jeneci “...Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar. Nessa hora, fique firme, pois tudo isso logo vai passar.”
Diante de tantos acontecimentos nefastos, tenho a impressão de que sozinhos(as) fica quase que humanamente impossível, mexermo-nos com ânimo, elevarmo-nos com força e coragem a nossa voz em busca dos nossos direitos e justiça. Até por que como bem disse o Papa Francisco em sua mensagem de Natal de 2020 “resignar-se à violência e à injustiça significaria recusar a alegria e a esperança do Natal.”
Precisamos contar com um poder superior, contar com Deus, quem acredita nele, para renovar nossas forças, estender os braços soberanamente, apascentar-nos, ensinar-nos o caminho da justiça, da ciência e mostrar-nos a via mais prudente.
Tampouco, contar com a força do coletivo, para que juntos(as) possamos começar a agir, movimentando-nos sem nos cansar, rumo à vitória, sempre em frente sem nos fatigar. Estimular e dizer um ao outro: Coragem! Arregasse as mangas, creia que é possível mudar. Sinalizar a importância de agirmos com mais fraternidade, compadecendo-nos dos sofrimentos alheios, independente da crença, raça, orientação sexual e das diferenças. Procurar ajudar e, se preciso for buscar ajuda.
Somos humanos. Precisamos estar mais unidos para conseguirmos superar as adversidades e os mais variados desequilíbrios: ecológicos, econômicos e sociais. Não dá mais para permanecermos no nosso canto, isolados(as) em nosso “mundinho” com uma venda em nossos olhos para evitar de ficarmos incomodados(as) ao enxergar um mundo diferente do nosso.
Todas as pessoas precisam umas das outras. Vide a gravidade do momento histórico que estamos vivendo e que foi agravado com o surgimento da Pandemia-COVID-19. Essa pandemia chegou “gritando aos quatro ventos e esfregou em nosso rosto” que ninguém se salva sozinho(a). Uma pessoa não passa de uma gota de água num balde. Não adianta somente ter bens materiais, pertencer a uma determinada classe social, etnia, religião, país, cultura...para estar imune de uma contaminação. Precisamos da assistência mútua. É cada vez mais nítida a necessidade de uma real fraternidade para que todas as pessoas possam ter acesso à saúde, educação, justiça e proteção social sem nenhuma discriminação ou privilégio.
Para isso, talvez precisemos desenvolver novas atitudes e, se preciso for morrer para nascer de novo. Como na história da águia escrita por Frei Betto em seu site:
“Entre as aves, a águia é a que vive mais, cerca de setenta anos. Mas para atingir essa idade, aos quarenta ela deve tomar uma difícil decisão: nascer de novo.
Pois aos quarenta suas unhas ficam compridas e flexíveis, dificultando agarrar as presas com as quais se alimenta. O bico alongado e pontiagudo se curva. As asas, envelhecidas e pesadas, dobram-se sobre o peito, impedindo-a de empreender voos ágeis e velozes.
Restam à águia duas alternativas: morrer ou passar por uma dura prova, ao longo de 150 dias. Esta prova consiste em voar para o cume de uma montanha e abrigar-se num ninho cravado na pedra. Ali, ela bate o bico contra a pedra, até quebrá-lo. Espera, então, crescer o novo bico, para poder arrancar as suas unhas.
Quando as novas unhas despontam, a águia puxa as velhas penas e, após cinco meses, crescidas as novas, ela atira-se renovada ao vôo, pronta para viver mais trinta anos.”
Enfim, desejo que possamos fazer como essa águia. Ter sabedoria e esperar com paciência o momento certo da nossa maturação para renovar nossas forças, desenvolver novas atitudes e despojar daquilo que nos impede de voar para uma vida mais justa e fraterna.