ESTÉRIL
sempreemfrente
Existem algumas pessoas que valorizam em demasia um objeto ao ponto de não se importar com a origem dele e muito menos com a sua. “Filho do homem, a lenha da vinha por que valeria mais que a de galhos das outras árvores? (Ezequiel 15,02). Será que alguém é melhor do que o outro por ocupar um cargo importante na sociedade ou por ter conseguido adquirir um bem de valor?
Muitas das vezes perdemos o foco daquilo que nos levará ao nosso crescimento pessoal e ou profissional preocupados em olhar para a vida de outrem. Vide as redes sociais. Ficamos envoltos em meio a tantas demandas, lives, notificações e grupos de plataforma que parece que foram criados para desviar a nossa atenção. Estimulam, quase que a todo momento, a comparação da nossa vida com a dos outros. Quando conseguimos parar para perceber que fomos sugados por tudo isso, parece que já é tarde demais , pois já demos início a um círculo vicioso de lamentações do que não conseguimos, ainda, realizar e passamos a sentir inveja do que as pessoas já conseguiram na nossa frente. Quanta esterilidade!
Não produzimos o que planejamos e desvalorizamos o que já conseguimos. Isso pode ser muito sério. Não que as redes sociais sejam as únicas responsáveis pela nossa infertilidade, mas têm um papel importante se não soubermos utilizá-las. Para o dramaturgo grego Sófocles "Nada grandioso entra nas vidas dos mortais sem uma maldição." Porquanto, consumir segundo a segundo essas ferramentas que nos fornecem infinitas possibilidades sem nenhum questionamento ou crítica de como estamos fazendo uso delas pode ser um grande fratricídio ou suicídio por falta de discernimento, foco, organização e gestão das emoções. Como fazer para nos “blindarmos”?
Penso que não exista uma receita pronta para ser usada por todas as pessoas, porém algumas dicas poderão ser valiosas, caso seja de nosso interesse alargarmos o nosso ponto de vista. Aí vai a primeira dica: Desenvolver o foco para sairmos bem em nossas atividades. De acordo com Goleman, “ A incapacidade de abandonar um foco para tratar de outros pode deixar a mente perdida num ciclo de ansiedade crônica. Em casos clínicos extremos, isso pode significar ficar perdido no desamparo, na desesperança e na autopiedade de um quadro depressivo, ou no pânico e na ideação catastrófica de um transtorno de ansiedade, ou nas incontáveis repetições de pensamentos ou comportamentos ritualísticos(tocar na porta cinquenta vezes antes de sair de casa)de um transtorno obsessivo-compulsivo. A capacidade de tirar nossa atenção de uma coisa e transferi-la para outra é essencial para o nosso bem-estar.” Criar um momento para relaxar a nossa mente. “Pulando e gritando nas ondas com a minha filha, eu estava completamente presente no momento. Completamente vivo.” (William Falk apud Foco, 2014, pág.62).
A segunda dica: Procurar pensar com clareza na era da sobrecarga de informações tecnológicas. Organizar nosso meio social, tempo, nossas coisas e informações, respeitando a nossa realidade, para nos ajudar a tomar decisões em nossa vida. Bem como, “ Manter bastante interação pessoal é realmente importante.”( Arthur Toga Apud A mente organizada, 2015, pág.267).
A terceira dica: Aprender a gerir nossas emoções para evitar estressar a nossa mente. Uma coisa é ficarmos “ligados”, atentos às informações que nos chegam através das redes sociais. Outra é ficarmos “ligados” de forma acelerada. A jornalista Izabella Camargo em uma live disse: “Nosso cérebro, ainda, é analógico. Precisamos nos respeitar.” Se continuarmos a acreditar que podemos fazer tudo ao mesmo tempo agora, sem um mínimo de gerenciamento, cuidado, poderemos levar o nosso cérebro ao esgotamento, ao cansaço mental.
Enfim, segundo a citação de um(a) autor(a) desconhecido(a): “nenhum incêndio começa grande; todos principiam por uma fagulha, uma pequena chama, um disparo.” Que possamos ter a humildade de pedir ajuda, assim que escutarmos esse disparo ou mesmo enxergarmos a fagulha que mina, aos poucos, a nossa qualidade de vida, principalmente, quando ela nos faz acreditar que o jardim do outro é melhor que o nosso. Mudar a forma como nos relacionamos com a internet e todas as suas múltiplas ferramentas se fará necessário se quisermos a fertilidade. Tampouco, mudar o olhar das perspectivas fechadas, enquadradas sobre um único ângulo que nos aprisiona e nos impede de valorizar quem somos. Assim, mudar poderá, não só ser libertador, mas também uma questão de sobrevivência.