DESTRUIÇÃO
sempreemfrente
A cada dia tenho a impressão de que estamos colhendo o que plantamos. A natureza é bela e bastante sábia. Ela desde muito já nos vem enviando mensagens sobre as nossas escolhas destruidoras. Fizemo-nos de cegos e surdos com o simples intuito de aproveitar apenas o que ela poderia nos oferecer. Quanto egoísmo e ignorância da nossa parte!
Segundo Habacuc, “Teus desígnios cobriram de vergonha a tua família, pois, destruindo muitos povos, fizeste mal a ti mesmo,...” Parece que quando estamos ávidos por algo não conseguimos parar para pensar sobre as consequências das nossas ações. A nossa ambição grita mais alto, clamando por um pedaço de terra nem que para isso precisemos destruir árvores centenárias.
Contudo, não adianta crer que somos mais inteligentes do que a natureza só porque, naquele momento, agimos com mais força. Ledo engano. A natureza silencia, enquanto é destruída aos poucos. Sangra e sofre diante da queimada, do desmatamento desenfreado, mas espera o momento certo de nos mostrar o quanto estamos enganados sem pensar nas consequências dos nossos atos, valorizando apenas interesses pessoais. Pode até demorar para “cair a ficha”, mas uma hora os resultados da nossa atitude inconsequente serão apresentados: a destruição e extinção de espécies que poderiam nos ajudar na cura de doenças e o equilíbrio do planeta comprometido em seus diversos elementos, afetando a economia e a sociedade como um todo.
Vivemos em grupo. Precisamos uns dos outros. Ninguém realiza nada sozinho(a). Todas as nossas ações e escolhas refletirão em alguém. Como a terceira lei de Newton conhecida como lei da ação e reação: afirma que, para toda força de ação que é aplicada a um corpo, surge uma força de reação em um corpo diferente. A força de reação tem a mesma intensidade da força de ação e atua na mesma direção, mas com sentido oposto.
Não podemos continuar a acreditar que estamos no mundo apenas para usufruir e mais nada.Dane-se os outros. O que importa é o que nós desejamos. Será? Podemos desejar muitas coisas, até porque somos seres desejantes, ok. A felicidade pode ser um desses nossos desejos, mas para ela ser incrível, tão incrível, não importa se é nossa ou não. Entender e despertar para o significado e a importância de estarmos em comunhão uns com os outros, isso, sim, poderá ser maravilhoso.
Ricky Gervais disse “Uma sociedade cresce bem quando as pessoas plantam árvores, sabendo que não desfrutarão de suas sombras.” Simples assim. Mas parece que gostamos de complicar as coisas. Ainda, não aceitamos que vivemos em um grupo interligado. A natureza sempre nos ensinou isso. Porém, não adianta o mestre estar disposto a ensinar se o aprendiz não quer aprender. Demonstra total inabilidade para escutar e obedecer. Quiçá ser humilde.
Sabemos que não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o nosso mundo interior. Buscar melhorar um pouco, a cada dia. Silenciar, se preciso for, os nossos barulhos internos para, enfim, conseguirmos descobrir e aceitar que dentro de nós, também existe um mundo asqueroso. Que somos imperfeitos. Talvez assim possamos parar de ficar condenando os outros, julgando a todo instante suas atitudes, tirando o foco das nossas ações inconsequentes e das nossas irresponsabilidades.
A batalha que muitas vezes travamos não é com outrem e, sim, conosco. A batalha é interna. Se quisermos a mudança de alguém, precisaremos começar a nossa primeiro. Olhar para dentro das nossas mazelas. Todos temos esfíncteres. No processo do autoconhecimento, precisamos aceitá-los e mostrá-los. Colocar a mão nos nossos lixos, mesmo que exalem um odor forte e nos incomode. Sermos responsáveis por eles. Pararmos de descartar o lixo que nos pertence na lixeira do outro. Descartarmos em nossa lixeira o egoísmo, a vingança, a falta de perdão, violência e ameaça para conseguirmos o que queremos, a arrogância e insolência em apontar os erros dos outros, irrigando somente o que eles têm de pior, humilhação e insultos para nos sentirmos superiores, a crença de que a culpa de tudo está sempre no outro, construção das relações ou mesmo do nosso patrimônio a preço de sangue e envenenar os outros através de difamações e boatos.
Reciclarmos o que poderá ser reciclado será de extrema necessidade se quisermos não só viver, mas conviver com um olhar mais responsável, empático, compassivo, solidário sem precisar fazer uso de ferramentas que nos levam não só a destruição da natureza, mas também das nossas relações interpessoais.
Logo, que possamos ficar mais atentos(as) às nossas ações praticadas, pois tudo o que fazemos pesará, uma hora ou outra, sobre nós. Como disse o filósofo Leandro Karnal, “A solidariedade é um gesto estratégico e uma estratégia de vida.”