Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Rosangela Perez / Instagram: @psicologarosangelaperez

Espaço destinado para provocar as mais variadas reflexões e inquietações sobre diversos temas do nosso cotidiano. Espero que contribua e o(a) estimule a transformar sua realidade. Meu site: www.psicologarosangelaperez.com.br

Rosangela Perez / Instagram: @psicologarosangelaperez

Espaço destinado para provocar as mais variadas reflexões e inquietações sobre diversos temas do nosso cotidiano. Espero que contribua e o(a) estimule a transformar sua realidade. Meu site: www.psicologarosangelaperez.com.br

02.06.20

O ENCONTRO


sempreemfrente

        Diante de tudo que estamos vivenciando com a chegada da pandemia e toda a sua consequência, pego-me refletindo como estão sendo os nossos encontros. Será que são fraternos e reais? Muito escuto que precisamos nos manter conectados(as) com as nossas redes de apoio e afetiva, mesmo isolados(as), fisicamente, para cuidarmos da nossa saúde emocional. Quanto desafio!

      Revisitar os nossos afetos, procurar as pessoas que nos fazem bem, dar um novo ressignificado ao que vivenciamos nas relações interpessoais nem sempre é fácil, principalmente, quando em nosso processo de vida já apresentávamos alguns entraves que dificultavam o encontro congruente conosco e quiçá com outrem. Muitas das vezes é um grande desafio conseguir ultrapassar esses obstáculos, pois nem sempre estamos disponíveis ou em condições emocionais de encará-los.

   Às vezes passamos por situações que deixaram marcas em nossa história, causando sofrimento e medo de que se repita a cena. Apesar disso, escolhemos ir adiante, porque no âmago das nossas entranhas temos a crença de que ao nos aproximar de uma pessoa com autenticidade, de pessoa para pessoa , iremos nos salvar e quem sabe até nos curar de tudo aquilo que um dia, paralisou-nos diante de uma humilhação e constrangimento .

  Tenho a impressão de que quem humilha de propósito, apenas demonstra ter um complexo de inferioridade em relação a quem a pessoa quer humilhar. Entretanto, essa humilhação poderá vir de vários contextos. Destaco o mais comum, atualmente, a humilhação social. Quando somos discriminados(as) por sermos o que outrem não aceita, não tolera e rebaixa por ter a crença de que a diferença é ruim, inferior e incômoda.

   Em tempos de pandemia, percebo o quanto a humilhação social está cada dia mais aumentando. O mercado de trabalho foi afetado e muitas pessoas precisaram ser demitidas. Vários(as) provedores(as) se viram de uma hora para outra sem ter como sustentar seu núcleo familiar, sentindo-se indignos(as) e impotentes diante da incapacidade de trazer alimento e, se quer, segurança para dentro do seu lar. Mesmo aquelas pessoas que não foram demitidas tiveram seu orçamento afetado. Ninguém ficou ileso(a) ao turbilhão chamado pandemia.

  Porquanto, o isolamento social / quarentena expôs, ainda mais, a humilhação e desigualdade social ao colocar algumas pessoas em condições mais vantajosas do que as outras.

   Contudo, nessa hora conseguimos enxergar com mais clareza quem realmente tem atitude humanitária, solidária, valoriza o serviço ao invés de ser servido, quem apenas se preocupa com seu próprio umbigo, não demonstra o devido respeito para com o próximo e ignora qualquer pedido de socorro em prol da crença de se achar superior por estar, nesse momento, ocupando uma posição mais elevada. As máscaras começam a cair e a pandemia, bem como seus efeitos devastadores, podem nos ajudar a discernir quem é quem. Basta estarmos atentos(as) a forma como nos comunicamos, pois, esta forma poderá nos aproximar ou nos afastar do encontro congruente.

    Tampouco, mergulhar no autoconhecimento para entendermos o nosso processo de vida. Soren Kierkegaard disse: “A vida só pode ser entendida olhando para trás; mas precisa ser vivida para frente”. Deixar de dar poder a quem ou o que nos oprime e humilha e passar a dar poder a quem nos dá paz, confiança, aceita o nosso jeito de ser sem querer nos controlar, impor ou diminuir.

   Nem que para isso precisemos ficar isolados(as), sem distrações, para em silêncio nos aproximar de nós mesmos. Conseguir encarar nossas fraquezas, dificuldades, arrogância, atrevimento, desrespeito e presunção. Aceitar a nossa humanidade imperfeita, mesmo que para isso, no primeiro instante, não fiquemos felizes. De acordo com um provérbio, “A verdade o libertará- mas, antes, o deixará infeliz”.

   Por isso, é na dificuldade que crescemos. No embate conosco, com a nossa história. Segundo Rubens Alves, “Ostra feliz não faz pedra.” Uma vez que os problemas fazem parte da nossa vida, que possamos aprender a tirar proveito deles. Enfrentá-los com coragem, de cabeça erguida, superando os obstáculos. Buscar entender o motivo dos nossos incômodos nas relações, da necessidade de humilhar os outros para nos sentirmos superiores, da necessidade de sermos servidos(as) ao invés de servir, do medo de encarar a nossa finitude, de sermos rejeitados(as), de sermos amados(as), da incapacidade de sermos solidários e empáticos com a dor de outrem, de expressar afeto e da dificuldade de perdoar, largar as mágoas que somente contribuem para engessar as nossas relações e impedir de irmos à missão e , assim, realizar o encontro fraterno e autêntico conosco e com quem cruza a nossa trajetória de vida, mesmo durante uma pandemia.