UM SOPRO DE VIDA
sempreemfrente
Nos dias vigentes, deparamo-nos a cada milésimo de segundo com novas informações e demandas das mais variadas possíveis. Muitas das vezes, quando, ainda, estamos processando uma informação, já nos chega outra carregada de cobrança, como se não tivéssemos o direito de sermos humanos. Precisamos de um tempo para processar as informações e discernir o que fazermos com elas. Contudo, tenho a impressão de estarmos vivendo em uma era a qual valoriza apenas as fotos tiradas, as visualizações, o like, a curtida, o superficial, o que brilha apenas para ostentar e embelezar por preço exorbitante, quando neles nem sequer um sopro de vida parece existir.
Precisamos nos prevenir, caso não queiramos mais ser seduzidos(as) e induzidos(as) a acreditar que tudo o que não se aprofunda, não requer um trabalho mais detalhado e cuidadoso, que não valoriza a harmonia nem o conteúdo de uma mensagem e muito menos a observação, a escuta e o discernimento mais acurados, não nos servem mais e nem são dignos de apreço para a nossa existência.
O que estamos fazendo? Parece que não estamos mais valorizando a importância de um abraço mais longo e fraterno, de um aperto de mão mais demorado, de um sorriso largo carregado de uma longa e boa gargalhada, de um olhar empático, de uma ajuda solidária ou de um telefonema para escutar e acolher o som da voz de quem amamos. Tampouco, doamos alguns minutos de atenção para amenizarmos o sofrimento alheio, respondendo uma mensagem que veio junto com um texto mais longo, talvez camuflado de um pedido de atenção, estímulo ou socorro. Chegamos até a expressar que se recebermos um vídeo e um áudio com mais de um minuto, não abriremos, porque não temos tempo e como dizem... “tempo é dinheiro”. Será?
Ledo engano se insistirmos em acreditar nisso! Poderemos correr o risco de sermos exterminados(as) por vermes que fervilham nos solos e que vêm devorar as nossas carnes e todas as nossas roupas, simplesmente, por termos agido como marionetes que não pensam e não têm vida.
Também, continuar a menosprezar um pedido de ajuda, escuta e acolhimento talvez venha a contribuir e resultar em um grande adoecimento, vazio e escassez em nossas relações sociais. Segundo Adrianna Loduca, “O indivíduo sente a necessidade de ser acreditado no seu sofrimento por todos que o cercam (familiares, amigos e profissionais da saúde) e, para tanto, muitas vezes exacerba, de maneira consciente ou inconsciente, seu infortúnio. Ele pede ajuda explicitamente e quer mobilizar, pelo seu desespero, o apoio de seus familiares e amigos no sentido de obter atenção, cuidado e incentivo para seguir os tratamentos propostos.”
Uma vez que nós humanos somos seres sociáveis, o adoecimento pode ser compreendido como um processo social. Necessitamos estar inseridos(as) em grupo e nada nos é mais importante e salvífico, ainda mais agora, do que nos mantermos vinculados(as) as pessoas que nos rodeiam, que fazem parte da nossa rede para possibilitar uma maior qualidade de vida, independentemente da quantidade de tempo que podemos doar, retribuir, repartir e porventura saciar a fome dos infelizes e miseráveis tanto de afeto, carinho, tolerância, respeito , compreensão e aceitação.
Então, que possamos priorizar o conteúdo da nossa ferramenta, ao invés de apenas dar importância a quantidade, a sua púrpura, brilho, aparência ou beleza que de nada contribuem para preservar e estabelecer o real contato com outrem sem sacrifício e preconceito. Saber, verdadeiramente, utilizá-la em prol da nossa existência social, pois de acordo com Baruc,6 “Quando a ferramenta de um homem se quebra, perde a utilidade.” Ouso acrescentar, perde também a existência de um sopro de vida.