CARIDADE
sempreemfrente
Há algum tempo uma frase vem ‘martelando’ em minha mente:Ide levar água àqueles que têm sede.Ôpa, mas isso é caridade!
Para realizar esse gesto é necessário estar disposto a olhar para fora do nosso umbigo e aceitar que existem outras pessoas, além de nós, que estão precisando de ajuda e necessitam de cuidados, de um novo olhar para as suas vidas.
Entretanto, nem todos estamos dispostos e disponíveis a nos mobilizar para contribuir com a melhora de uma outra pessoa ou mesmo de um grupo, porque, muitas das vezes, não nos enxergamos próximos a essa pessoa ou pertencentes a este grupo.
Apontar para fora, criticar, condenar, passar receitas, costumam ser mais fáceis do que interagir, aproximar, procurar entender e respeitar a singularidade e complexidade de cada pessoa, para que no momento certo, possamos oferecer a ajuda necessária com benevolência.
Praticar a caridade é uma atitude humana e política, pois através deste ato contribuímos para a qualificação social, resgatando a dignidade humana que é tão bem usada em discursos, mas com pouco reflexo nas práticas sociais.
Basta passear pelas calçadas das ruas para verificar o quanto as pessoas estão sendo descuidadas.Enxergamos pessoas dormindo ao relento sem nenhum vislumbre de uma vida decente e, às vezes, não nos damos conta que também é a nossa responsabilidade.
Comprometer-se com outro , praticar a caridade, oferecer cuidados nem sempre é confortável, mas necessário para quem acredita que fazemos parte de um mesmo grupo: o grupo dos seres humanos.Que precisam de comida, água, trabalho, afeto, roupa, dignidade, atenção...
Todavia, para aceitar que fazemos parte de um só grupo será preciso aprendermos a olhar, escutar o outro e reconhecer como uma pessoa e não um objeto que, na maioria das vezes, enxergamos como obstáculo na calçada que nos impede de passar.
“Na filosofia de Espinosa, tudo na natureza participa de uma ordem comum de encontros e os seres podem ser definidos pelo seu poder de “afetar”e de serem “afetados”por outros seres.”(Yasuis).
Isso é o verdadeiro encontro!
Encontrar-se com o outro é pensar na produção de diversos atos de cuidado.Porém, precisamos estar atentos para que este ato de cuidar, ser caridoso, não se transforme em mero assistencialismo que olha para a pessoa como sendo incapaz de suprir as suas necessidades básicas, que não pode reclamar ou negar assistência, desqualificando a autonomia da pessoa.
Portanto, espero que possamos praticar mais encontros que produzam efeitos sociais, ao invés de desencontros, permitir afetar e ser afetados, ser mais caridosos uns com os outros ao ponto de potencializar a vida, levar água àqueles que têm sede, pão àqueles que têm fome, moradia, trabalho, proteção, saúde, respeito e dignidade humana.