A MORTE
sempreemfrente
Refletir sobre a própria morte para algumas pessoas é impensável, pois não querem tocar no seu finito. Contudo, vida e morte são estados interligados. Um não existe sem que o outro exista.
Segundo um ditado popular: só morre quem está vivo.
Pensar sobre a morte de uma forma geral não produz problema para a maioria das pessoas, mas quando sinalizada sobre a individual, se recusa a trazer à baila esse tema que pode gerar muita ansiedade.
Ter consciência do nosso fim é uma marca da humanidade e não é nem um pouco reconfortante, muito pelo contrário, ficamos angustiados com a possibilidade dessa experiência limite que faz parte do misterioso universo humano. Ainda assim, não negar a nossa morte é permitir explorar o curso da nossa vida e dos significados, é aprender a viver.
Desde o nosso nascimento vivemos várias mortes: estágios da vida; mudança corporal; envelhecimento; marcos significativos da vida; aposentadoria; fenômeno do ninho vazio; acidentes;separações e muitas outras necessárias para a melhoria da qualidade de vida.
Para José Carlos Rodrigues, “... a morte, sob o ângulo humano, não é apenas a destruição de um estado físico e biológico. Ela é também a de um ser em relação, de um ser que interage. O vazio da morte é sentido primeiro como vazio interacional”.
Todos em algum momento ou de alguma forma já experimentamos algum tipo de morte ou participamos de algum rito da morte de alguém porque além de ser um fato inexorável, também, não é isolado.
Todavia, tomar consciência da nossa mortalidade não nos deixa isentos de necessitarmos manter um sentido da imortalidade, dar continuidade a nossa existência seja através de filhos, ideias, escritos, trabalhos realizados ou plantação de uma árvore.
Porém, algumas pessoas vivem presas às coisas que conquistaram e aos relacionamentos e acabam não vivendo a sua vida, têm medo de perder e evitam qualquer transformação que possa vir a sofrer mais adiante.Não lutam mais.Elas não percebem que o foco da sua existência passou a ser a morte e não a vida.Estão mais mortas do que vivas.
“E em vez de insistir no que se perde, é importante ver também o que se cria e encarar o processo como um ciclo eterno de vida e morte, que não é bom, nem mau, apenas é”. (Robert M.Pirsig)
Aceitar que a nossa vida é limitada nos confere um significado, um sentido de vida, uma força propulsora motivacional da existência, que nos deixa potencialmente vivos diante dos acontecimentos, providos da nossa individualidade e da liberdade de ser em busca de uma melhor qualidade de vida.
“A morte não é um mero fim da existência”. (Heidegger)
Portanto, conscientizar-se da própria morte não é ir ao encontro dela e sim valorizar a vida, intensificar cada momento presente, abandonar velhos comportamentos que não nos enriquece como pessoa, estar cientes de como realizamos as nossas escolhas, questionar a nossa qualidade de vida, encarar as nossas angústias, assumir as próprias responsabilidades, recuperar a coragem para lidar com o finito e reintegrar a vida e a morte como possibilidade de nosso projeto completo.